Capital Inicial faz o Espaço das Américas tremer em um show que marca o novo projeto Acústico NYC da banda!
Há exatos 15 anos, uma banda de Brasília se reinventava da forma mais improvável e despretensiosa possível. O propulsor dessa segunda vinda foi um Acústico MTV, registrado sem exageros de produção, mas com um resultado comercial acima de qualquer expectativa: mais de dois milhões de CDs comercializados (no auge da pirataria). Ali, o Capital Inicial dos anos 80 virou o Capital Inicial do novo milênio, inclusive abandonando alguns hits dos primórdios pelo caminho. Já com um novo titular na guitarra, Yves Passarell, e com a parceria entre Dinho Ouro Preto e o compositor Alvin L mais afinada, o grupo registrou cinco álbuns de inéditas, um EP também de material fresco e um projeto resgatando a obra do seminal Aborto Elétrico
E é uma espécie de revisão desse segundo e glorioso momento do Capital que o fã encontrará em Acústico NYC. Trata-se de um produto necessário. Se milhares de pessoas se apaixonaram pela banda a partir daquele registro para a MTV, por que não mostrar como os hits dos últimos 15 anos soam no mesmo formato desplugado? Mas Acústico NYC não é apenas isso, já que vai além dos hits obrigatórios. Ele recupera canções de álbuns recentes que não foram trabalhadas como singles, mas mereciam uma nova chance, casos da emblemática “Ressurreição” e de “O Cristo Redentor”, além de introduzir três inéditas: “Vai e Vem”, “A Mina” e “Doce e Amargo”. Ao todo, são 19 faixas no CD e 23 no DVD, cuja direção é assinada por Raoni Carneiro. Há ainda um caprichado kit para colecionadores com as duas mídias, pôster, adesivos, moleskine, fotos exclusivas e outros mementos.
Antes de destrinchar as três faixas novas, é necessário falar de Nova York. Após considerar uma ambientação mais próxima da natureza, em Fernando de Noronha, Dinho, Yves, Fê e Flavio Lemos optaram pela mítica cidade que fascinava a juventude punk de Brasília. Além de ornar com o passado da turma, a escolha de Nova York e da casa de espetáculos Terminal 5 para abrigar a gravação permitiu que fãs voluntariamente exilados no hemisfério norte matassem a saudade da banda. Foram 1500 entusiasmados pagantes, que acabaram contribuindo para a viabilidade do ambicioso projeto.
Já nas rádios, “Vai e Vem” trata das intempéries do tempo, lançando até mesmo um olhar – otimista – sobre o período de crise que atravessamos no país. Mas a parceria entre Dinho, Alvin e Thiago Castanho também chama a atenção pelo convidado especial: Seu Jorge. No making of disponível no DVD, o carioca menciona um falecido irmão fã de Capital, algo que certamente pesou para que ele aceitasse o convite de imediato. Visivelmente emocionado, Seu Jorge permanece no palco após participar de “Vai e Vem” e coloca sua voz grave em “Belos e Malditos” (Renato Russo, Alvin L, Dinho Ouro Preto, Loro Jones e Bozzo Barretti), a única representante dos anos 80 no repertório, e na versão para o clássico do Soda Stereo, “À Sua Maneira”.
“A Mina” é uma daquelas composições de Kiko Zambianchi “com a cara do Capital”, como diz Dinho. Vale lembrar que Kiko foi presença marcante no Acústico MTV, dividindo os violões com Loro Jones (primeiro guitarrista da banda) e Marcelo Sussekind (produtor daquele disco). É curioso notar que, em Nova York, o time das cordas é completamente diferente. Yves tem ao seu lado o virtuose Fabiano Carelli, o ex-Charlie Brown Jr. Thiago Castanho e o produtor do Acústico NYC, o lendário Liminha (responsável por gravar o primeiro compacto da banda, em 1985, e o recente EP Viva a Revolução). Esse quarteto de violões – e bandolim! – abusa dos pedais e timbres processados, emulando sons talvez nunca ouvidos no formato desplugado.
Thiago, que vinha ofertando temas instrumentais para Dinho e Alvin adicionarem letras desde o EP (vide “Melhor do que Ontem” e “Coração Vazio”), também está nos créditos de “Doce e Amargo”, a terceira inédita do pacote. O inferno urbano paulistano que tanto incomoda e, ao mesmo tempo, atrai Dinho serviu de inspiração para a letra. O santista ainda é coautor de “Me Encontra”, música do Charlie Brown Jr. escolhida pelo Capital para homenagear Chorão e Champignon – Dinho participou de shows do projeto A Banca, que existiu entre as mortes do cantor e do baixista. Também é possível identificar o riff de “Rubão, O Dono do Mundo” numa passagem de “Respirar Você”.
A outra homenagem do Acústico NYC é ao “rock nacional”. Pelo menos foi assim que o convidado Lenine trouxe a ideia. Além de protagonizar um dueto com Dinho em “Não Olhe Pra Trás”, o pernambucano botou pilha para um segundo número prestando tributo às bandas brasileiras, “quem sabe cantando uma da Legião Urbana…” Mal sabia ele que Dinho já tinha tentado emplacar uma da Legião nos ensaios para o projeto, realizados em sua casa. E, assim, a sugestão de Lenine virou “Tempo Perdido”, um dos maiores clássicos de Renato, Dado, Bonfá e Negrete.
E também tem o arsenal de hits. “Quatro Vezes Você”, “Eu Nunca Disse Adeus”, “Vamos Comemorar”, “Olhos Vermelhos”, “O Lado Escuro da Lua”, “Como Devia Estar”, “Depois da Meia Noite”, “Como se Sente” (com boas contribuições do tecladista Robledo Silva e do percussionista Marivaldo), “Mais” (que Liminha conduziu para uma pegada mais “Honky Tonk Woman”)… Gravada originalmente em 2002, “Algum Dia” (Pit Passarell) pode ter sua vez agora via Acústico NYC. Mas que ninguém se espante se “Belos e Malditos” voltar às FMs, tamanha a excitação de Seu Jorge em redescobrir a canção de 1989, ano que marca o início das parcerias entre Alvin e Capital. E é em “Belos e Malditos” que o grupo reverencia Nova York e seus mitos, citando “Walk on the Wild Side”, de Lou Reed, no trecho final da música.
Agora é reencontrar os fãs na turnê. Os cenários de Zé Carratu vistos no Terminal 5 estão garantidos nos maiores shows pelo Brasil, assim como a iluminação de Césio Lima. E os sucessos do Acústico MTV, que apesar de ter vendido milhões não está mais em catálogo nem disponível nos sites de streaming, obviamente enriquecerão o repertório ao vivo. Não é o caso de se falar em fechamento de mais um ciclo ou início de outro. Mas nunca devemos duvidar da capacidade do Capital em inventar novas histórias.