O amanhecer de Paula Fernandes rompe, com coragem, as amarras dos estereótipos. Sertanejo, folk, country, música de raiz, pop rural, balada romântica, guarânia – pode aí escolher como chamar essa polifonia de sons, timbres e gêneros que ela é capaz de oferecer. Paula Fernandes nunca vai deixar de se orgulhar do chão musical em que nasceu, de impregnar suas letras e suas toadas com as lidas da roça, dos bichos, dos rios, das serras, do orvalho, das estrelas, das paixões enluaradas. O sertão é sua essência. Porém, tem também o direito de comemorar sua maior conquista: está livre, graças à sua versatilidade de artista, da prisão dos rótulos, das definições e dos enquadramentos. Não há plateia que não perceba seu estilo único, pessoal e intransferível.
Baladas se revezam com balanço, neste disco altamente dançante – com a diferença de que os acordes não brigam para sufocar o que as palavras têm pra dizer. É natural que a gente pense: deve estar feliz, muito feliz, esta moça. Ela não se acanha em dizer que a felicidade agora desfrutada – e transportada para a música – é uma das facetas de sua maturidade. Quer dizer: ser feliz é também um aprendizado.
Paula Fernandes resolveu se dar o direito. Menino Bonito, por exemplo, é tão autobiográfico que Paula Fernandes até caprichou no sotaque de Minas Gerais.A incursão ecológica dela em Água no Bico – a canção que mais se aproxima do sertanejo dos clássicos – alerta que “a natureza é passiva/ mas cobra em algum momento”, mas, de novo aí, Paula Fernandes traz para a música o vigor de sua sinceridade madura. “Narrei uma realidade, mas não quero dar lição de moral”, explica.E ao revisitar, com encantamento de criança, Meu Pedaço de Chão, conseguiu entoar uma saudade que é um lamento sem se deixar paralisar, contudo, pela nostalgia. Almir Satter, “companheiro de estrada”, acompanha Paula Fernandes no retorno ao ranchinho onde “cantando estrelas/sonhava em tê-las/na palma da mão”.
Paula Fernandes tampouco não se acanha em falar de amor: “A luz do dia eu vi naquele olhar”(Amanhecer). “Alguém não quer meu querer”(E Eu). “Quando te Beijo sinto o céu no chão”(Piração). “Já é tempo de mudar/ser alguém”(pronta para você). “Amar é complicado”(Depende da Gente). Pois é, esse sentimento complicado está no DNA do Gênero sertanejo e perpassa de alto à baixo a música de Paula Fernandes. Mas, afinal, existe música que não traga o canto perfumado da paixão?
Doze canções nos esperam. Com o convite irresistível de que a gente também possa amanhecer com elas. Como canta Paula Fernandes: “a vida é bela para quem sabe sonhar”.